Espiões em Portugal? Como nos filmes, sim!
Foi durante a Segunda Guerra Mundial que se criou em Portugal o ambiente propício que tornou Lisboa, e até o Estoril, uma base ou placa giratória de operações e movimentações de pivôs, ou piões, dos serviços secretos de praticamente todos os países intervenientes na guerra. É verdade!
Portugal tinha assumido uma posição neutra durante a guerra e a sua localização geográfica a ocidente da Europa mantinha-o afastado da turbulência de ataques e destruição diários. Além disso, tinha um porto marítimo em Lisboa, com as Gares Marítimas de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbidos acabadinhas de fazer e com ligações ao império colonial (desde a Ásia, África até ao continente americano), por onde puderam sair refugiados que, na maioria das vezes, chegavam a Lisboa de comboio.
Imaginem a agitação das embaixadas para criar uma rede de informadores e controlar estes fluxos, aceder a informação do movimento de aviões, comboios e barcos e de negociações de fornecimento de matérias-primas. Isto já dava um filme!

Bar do Hotel Palácio, Estoril. Fotografia sem data. Produzida durante a atividade do Estúdio Mário Novais: 1933-1983. Fonte: Biblioteca de Arte Fundação Calouste Gulbenkian.
Agora, imaginem os hotéis a estarem referenciados com uma fação mais para um lado da guerra ou mais para o outro. Os agentes a recrutarem nos cafés da cidade e até nos nightclubs — muitas vezes mulheres — ou a trocarem informações nas esplanadas do Estoril. Credo, foi mesmo assim?!
Eis que surgem assim figuras como a de Edward "Eddie" Arnold Chapman (1914–1997), conhecido como Agente Fritz (para os germânicos) e, ao mesmo tempo, Agente Zigzag (para os aliados). Com um passado de assaltos a cofres e uma pena de vinte anos de prisão por cumprir, foi em Lisboa que teve a missão de afundar um navio britânico que airosamente informou, para que tal não acontecesse.
E que tal o espanhol catalão Juan Pujol Garcia (1912–1988), espião duplo, nome de código Garbo, envolvido num jogo de contrainformação quanto ao local e à data de desembarque das forças aliadas no norte de França?
E o mais cinematográfico dos três, Dusko Popov (1912–1981)? Sim, foi neste agente duplo de origem Sérvia que Ian Fleming se inspirou para criar o agente Bond, James Bond (ou 007). Foi no Estoril que Fleming conviveu com Popov e observou o seu gosto por jogos de casino, bebidas e senhoras.

Eddie Chapman (esq.), Juan Pujol Garcia (centro) e Dusko Popov (dir.). Fontes: WarfareHistoryNetwork; npr.com; Observador.
Três personagens misteriosos e intrigantes! Como os nossos três piões de madeira de Tília que, se por um lado podem passar despercebidos, por outro têm sempre aquele perfil ambíguo que nos deixa insistentemente a tentar deslindar de onde raio surgiram estas criaturas.
Na maioria das vezes, repousam cautelosamente na sua base em níquel polido, com uma postura sóbria e discreta que parece esconder alguns segredos fascinantes. No entanto, quando a abandonam, torna-se difícil prever os seus próximos passos... por isso, pelo sim, pelo não, aconselhamos que fique de olho neles!

Três EsPiões, em madeira de Tília e Níquel Polido. © After Hall 2024
O mistério que os envolve é parte do seu encanto. Portanto, ao deparar-se com estes intrigantes espiões, permita-se imaginar as histórias que poderiam contar e os segredos que guardam.
Não é a realidade ainda mais fascinante que a ficção?
EXPLORE A COLEÇÃO TRÊS EsPIÕES
Foto de capa: À esquerda: "Ficha da polícia inglesa com as informações de [Dusko] Popov". Fonte: Observador. No fundo: Hotel Palácio (Estoril). 1940. António Passaporte. Fonte: Arquivo Digital de Cascais.